sexta-feira, 31 de março de 2006

Casimiro "revisitado"

Notei que, na minha explicação de ontem para a associação entre a minha mãe e "o Casimiro", expus bastantes coisas... Mas não expliquei esta associação... Cá vai a dita explicação agora...

O Casimiro era aquele que...
"... talvez você não conheça
a aldeia donde ele vinha nem vem no mapa
mas lá no burgo, por incrível que pareça
era, mais famoso que no Vaticano o Papa

O Casimiro era assim como um vidente
tinha um olho mesmo no meio da testa
isto pra lá dos outros dois é evidente
por isso façamos que ia dormir a sesta

Ficava de olho aberto
via as coisas de perto
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
(e dizia ele com os seus botões:)

Cuidado, Casimiro
cuidado com as imitações
Cuidado, minha gente
Cuidado justamente com as imitações

Lá na aldeia havia um homem que mandava
toda a gente, um por um, por-se na bicha
e votar nele e se votassem lá lhes dava
um bacalhau, um pão-de-ló, uma salsicha

E prometeu que construía um hospital
Uma escola e prédios de habitação
e uma capela maior que uma catedral
pelo menos a julgar pela descrição

Mas... O Casimiro que era fino do ouvido
tinha as orelhas equipadas com radar
ouvia o tipo muito sério e comedido
mas lá por dentro com o rabinho a dar, a dar

E... punha o ouvido atento
via as coisas por dentro
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
(e dizia ele com os seus botões:)

Cuidado, Casimiro
cuidado com as imitações
Cuidado, minha gente
Cuidado justamente com as imitações

Ora o tal tipo que morava lá na aldeia
estava doido, já se vê, com o Casimiro
de cada vez que sorria à plateia
lá se lhe viam os dentes de vampiro

De forma que pra comprar o Casimiro
em vez do insulto, do boicote, da ameaça
disse-lhe: Sabe que no fundo o admiro
Vou erguer-lhe uma estátua aqui na praça

Mas... O Casimiro que era tudo menos burro
tinha um nariz que parecia um elefante
sentiu logo que aquilo cheirava a esturro
ser honesto não é só ser bem falante

A moral deste conto
vou resumi-la e pronto
cada qual faz o que melhor pensar
Não é preciso ser
Casimiro pra ter
sempre cuidado pra não se deixar levar."
(Ver letra completa da música)



Ora... as imitações a que me queria referir... são aquelas que a minha mãe faz dos padres... Aqueles que estão mais perto de Deus, claro está!... Como disse na noite passada... ela fá-lo com a melhor das intenções...
O problema da minha mãe é uma fé inabalável... não tanto em Deus como na Santa Igreja Católica Apostólica Romana... Quer-se dizer... não tanto em Deus como na dita, leia-se... para a minha mãe são praticame4nte a mesma coisa... E olhem que ela já melhorou muito ao longo dos anos!!!

Desta forma, a mulher sofre (e é que sofre mesmo e intensamente), por os filhos não irem à missa todos os Domingos (a bem dizer, há muitos anos que só lá vão em casamentos, baptizados e funerais... E normalmente vêm cá fora fumar um cigarrinho e dar duas de treta pelo meio...).
Ora, se ela sofre com isto... imaginem o que é os filhos dizerem-lhe de caras que tudo aquilo em que ela acredita é TRETA!
Crueldade nossa talvez... Será?
Atentem bem neste piqueno episódio - à falta de um termo mais adequado para nomear a loucura que a seguir descreverei, chameos-lhe "episódio", embora o factor ensandecente aqui seja exactamente o tempo, que torna aquilo que seria apenas um episódio numa coisa completamente exdrúxula!
Ora tinha eu uns 13 ou 14 anos quando fiz a Comunhão Solene + Crisma num pacote "dois em um" (muito bem vindo aliás, que despachava-se as duas coisas de uma só vez). Antes da realização da(s) cerimónia(s) em si, havia um retiro de dois ou três dias para os jovens, em jeito de "preparação" e complemento aos muitos anos de catequese que já levavam em cima... Era facultativo, e, como tal, eu "facultei" por não ir... Não sem uma série de discussões com as entidades paternais, mas... Bem, se a própria Santa Igreja dizia que era facultativo... como poderiam as ditas entidades "forçar" a participação do infante (eu) na coisa?...
(Diga-se a título de curiosidade, que me surgiram as primeiras dúvidas "religiosas" por volta dos 11 ou 12 anos... Dúvidas para as quais procurei resposta junto das entidades competentes... Quase invariavelmente, aquilo redudndava num "É um mistério de Deus..." Ah!... Pelos 15 ou 16 concluí definitivamente que aquilo dos "mistérios de Deus" já metia nojo aos cães (isso e mais uma série de incongruências por parte da Santa Igreja) e tornei-me ateu. Actualmente, sou relaxadamente agnóstico.)
Pois então, resumindo, não fui ao tal retiro facultativo, fiz a Comunhão Solene e o Crisma na mesma, por volta dos meus 13 ou 14 anos...
... E agora a parte alucinante: Tinha já eu 20 e tal anos, uns dez anos depois do referido "incidente" e não é que a minha mãe ainda consegue, com um misto de rancor e lágrimas nos olhos, bradar como tinham errado em me terem "deixado" não ir ao tal retiro!!!!!!
Percebem?! Dez anos depois e a minha vida era "uma desarmonia total de Deus" (aliás, todas as minhas divergências, repito: "divergências", não era preciso sequer serem conflitos nem mesmo confrontos com aminha mãe eram, independentemente de serem religiosas ou não, causadas pelo meu afastamento da Luz do Senhor!).
E o mais incrível é que, se eu tivesse ido à merda desse retiro, dez anos antes, EU TERIA SIDO SALVO!!!!!!!!!!!!!!!

Aliás, desconfio que, ainda agora, quase 20 anos depois desse episódio, a minha mãe, provavelmente, ainda pensa assim. Ou talvez não... "Água mole em pedra dura..." e ela acabou por tornar-se mais tolerante e descontraída com os anos.
Há uns tempos atrás, fizemos um acordo, que temos mantido: Não falamos um ao outro sobre religião. Penso que isto até já foi depois do falecimento do meu pai. O meu pai era igualmente crente, mas tinha uma atitude muito mais... saudável... ;) No entanto, quando rebentava uma explosão entre filhos e mãe, lá vinha o seu vozeirão calar as "crianças" - as poucas vezes em que nos "chegou a roupa ao pelo" convenciam-nos a não "forçar a barra" com ele - isso e a justiça/igualdade com que nos tratava na maior parte dos assuntos. A minha mãe, aproveitava-se do "apoio" para nos "martelar" com redobrada intensidade...

De qualquer modo, continua a tomar para si mesma como verdades quase divinas as palavras do clero... Ou pelo menos, como muito altamente respeitáveis...
Uma das paranóias católicas que ela continua a alimentar (também por razões diversas ligadas à sua experiência de vida), é a "caridade cristã".. E aqui vou ser mesmo completamente frontal: Essa merda não tem, em 99% dos casos nada a ver com verdadeiro altruísmo e compaixão pelo outro. É, muito pelo contrário, puro egoísmo, moeda de troca para comprar o céu ou, numa atitutde algo mais "positiva", para levantar o ego... É também condescendência e paternalismo, frequentemente cruéis no sentido em que dizem à pessoa "coitadinha" que ela é incapaz, e que a pessoa caridosa é que é boa... Uma forma não só de levantar o ego, mas também, inclusive de "conquistar" a pessoa e, nomeadamente, de a dominar...
Sei que estou a gerenalizar, mas estou quase certo que a maior parte das pessoas que lerão isto estarão a pensar "Não não! De maneira nenhuma! Não é por isso que eu o faço!". Acredito, sinceramente que sim, que não é por isso que o fazem, não é esse o "impulso consciente" de o fazerem...
Mas pensem bem... O prazer que sentem depois, depois de fazerem o vosso acto caritatitvo... não tem um bocadinho desse "acariciar o ego" e dessa sensação de poder (mesmo que só potencial) sobre a pessoa a quem fizeram a caridade?

Não me interpretem mal... Eu acredito genuinamente no prazer de dar, mais aidna na partilha... Mas digam lá... Dar a quem não pode retribuir... a não ser com o coração... Não é tao mau negócio assim, pois não?...

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