segunda-feira, 27 de junho de 2005

Voltando aos diabetes - a APDP

A APDP (Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal) é uma... Ei! Esperem lá! Associação Protectora?! PROTECTORA?! Mas então os diabéticos precisam de protecção (extra)?!!! Pensava que só precisavamos de insulina!!! Pronto, ok, eu sei, alguns só precisam mesmo é de EXERCÍCIO FÍSICO correspondente aos hidratos de carbono que ingerem (brincadeirinha meio séria)... Agora... PROTECÇÃO?! É, sem dúvida, fantástico!
Sinceramente, o que significa uma associação dedicada aos portadores de uma doença - seja ela qual for - advogar-se como "protectora" dos mesmos? Serão os diabéticos alguma espécie de flor de estufa que precisa de protecção contra agressões externas? Seremos nós particularmente agredidos, discriminados, marginalizados e outros "dos" pela sociedade em que vivemos? Seremos nós incapazes de nos defender dessas agressões por nós mesmos? Seremos nós os oprimidos entre os oprimidos? Os fracos mais fracos no fundo da cadeia alimentar? Incapazes?
Não, a sério, conhecem mais alguma associação, dedicada a uma doença, que se intitule "protectora" dos portadores da mesma? Eu, sinceramente não conheço. Lembro-me, assim de repente, da Associação Protectora dos Animais... Não que eu tenha a mania da superioridade da espécie humana, mas o facto é que esses não têm voz... Quero dizer, não têm representação política na nossa democracia... se é que me faço entender...

:-)

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Ainda sobre a verdade científica...

... será a paz possível? Poderemos ter esperança?


"Tenho uma pergunta para lhe fazer," disse ele, tirando do bolso um pedaço de papel amarrotado, no qual ele tinha escrito algumas palavras-chave. Fez uma pausa para respirar: "Acredita na realidade?"

"Mas é claro!" ri-me. "Que pergunta! É a realidade algo em que se precise de acreditar?"

(...)

Ele era um psicólogo muito respeitado, e tinhamos ambos sido convidados pela Fundação Wenner-Grenn para uma reunião contituída por dois terços de cientistas e um terço de "cientistas da ciência" ["science students"]. Esta divisão, só por si, anunciada pelos organizadores, deixou-me perplexo. Como podíamos nós ser atirados para alguma arena contra os cientistas? O facto de estudarmos uma área não significa que a estejamos a atacar. Serão os biólogos anti-vida, os astrónomos anti-estrelas, os imunologistas anti-anticorpos? Além disso, eu tinha ensinado durante vinte anos em faculdades de ciências, tinha escrito regularmente para revistas científicas, eu e os meus colegas tinhamos vivido da investigação financiada, desenvolvida em nome de muitos grupos de cientistas na Indústria e na Universidade. Não era eu um membro da comunidade científica formal francesa? Sentia-me ou pouco vexado por ser excluído assim tão casualmente. É claro que eu sou apenas um filósofo, mas o que diriam os meus amigos nos Estudos da Ciência? A maior parte deles tiveram formação científica, e muitos deles, pelo menos, têm orgulho em alargar a visão científica à própria ciência. Eles poderiam ser rotulados como membros de outra disciplina ou outros sub-tema, mas certamente que não como "anti-cientistas" encontrando-se a meio caminho com cientistas, como se os dois grupos fossem exércitos inimigos, conferenciando sob o auspício de uma bandeira de tréguas antes de voltarem ao campo de batalha!"

(minha tradução de uma parágrafo do original em inglês: Bruno Latour, "Do You Believe In
Reality?", in Pandora's Hope, Essays on the Reality of Science Studies, Cambridge MA, Harvard University Press, 1999), pp. I-23)

Bem, se o blog do Murcon se recomendava (pela sua qualidade e agradabilidade), a leitura do texto completo do qual aqui cito apenas um parágrafo... é FUNAMENTAL!!!
Divirtam-se!