sábado, 20 de agosto de 2005

Sobre a história da diabetes #2 Areteus de Cappadocia

Ah, a emaciação! Conheço perfeitamente! Os médicos chamam-lhe “crise de acetona”. Ok. Falemos então agora da causa dos diabetes. O problema (o grande, o verdadeiro, o filho-da-#&/ do !”$$/&%/! do problema) não é o excesso de açúcar. Pelo contrário!!! O grande problema é a falta de açúcar no organismo do diabético! Ok, eu explico: Um diabético tem muito (demasiado) açúcar no sangue, porque o corpo do diabético não absorve o açúcar! E vai daí, lá fica o dito a circular pelo sangue! Não porque estejamos a ingerir demasiado açúcar, mas por não absorvermos o que ingerimos! É como se tivéssemos toda a canalização de uma cidade prontinha, limpinha, impecável, levando a águinha a todas e cada torneira de todas e cada casa, mas ninguém abria as torneiras! O esmalte do lavatório, aliás, já descascara de seco, a casa imunda do uso diário normal (tirando o não se usar água para nada), a roupa por lavar, a louça por lavar, os proprietários por lavar e, caso sejam consumidores da marca “Del Cano”, a morrer à sede!!!
É isto mesmo que acontece com uma pessoa diabética. O açúcar (“glicose” para os entendidos) é a principal fonte de energia que ingerimos. E a insulina é a “torneira” que nos permite aceder ao mesmo. Sem energia, não há nada que funcione. Assim, embora um diabético tenha resmas, paletes, toneladas de açúcar a circular no sangue, ele simplesmente não o usa! E porquê? Porque para o usar, precisa de deixar que o açúcar entre nas células; e para ser absorvido, por qualquer célula do nosso corpo, o açúcar precisa de insulina.
É a insulina que permite que o açúcar passe do sangue para as células do nosso corpo. Caso contrário, ele continuará a circular pelo corpo até encontrar uma célula que precise dele (ou até que os rins decidam que ele está a mais). Infelizmente, num diabético, é como se a canalização acabasse num tubo fechado, sem torneira... Só que, neste caso, o cenário é mesmo o pior possível: Imaginem que a única coisa que têm para beber é mesmo a água “Del Cano”, mas não têm torneira. O que acontece? Morrem de sede...
De facto, a glicose é a única fonte de energia pura que o nosso corpo absorve. Os lípidos (gorduras) são também fonte de energia, sim, mas só depois de serem transformados em glicose... Sem a glicose, as células não têm energia para desempenhar sequer as suas funções mais básicas – morrem. Antes de se conseguirem reproduzir... Para que não haja dúvidas: a pessoa morre.
Bem, temos então, um corpo que precisa de energia, a insulina como torneira, e o “combustível” propriamente. Que pode não estar ainda refinado... Como são, então, os hábitos/as preferências de consumo das nossas células? Em primeiro lugar, o açúcar que se encontra a circular no sangue. Se não houver açúcar, o corpo vai transformar as gorduras armazenadas em açúcar, para este ser absorvido. E se não houver gorduras no corpo (sim, é possível!)? Bem, há mais um mecanismo natural no corpo humano, que nos providencia com glicose quando já nem gordura temos! É uma espécie de último recurso...

Neste caso, são as proteínas que são transformadas em açúcar! Com um “piqueno” efeito secundário, aliás dois! O primeiro é que as proteínas são recolhidas dos próprios músculos!!! Estamos, literalmente, a transformar massa muscular em açúcar, em energia! É claro que perdemos a dita massa muscular, mas... Mas, o facto é que basta uma quantidade bem pequena de proteínas para produzir uma dose suficiente de açúcar... pelo menos até à próxima refeição... Claro que, se o(a) caro(a) leitor(a) for diabético(a), este processo será completamente inútil, porque não é de açúcar que precisa, mas sim de insulina! Mas o pâncreas, curiosamente e logo ele, não sabe disso!!! E como não sabe, ou não quer saber, vai continuar a produzir glucagon (a substância que transforma as proteínas em açúcar) em vez de produzir insulina! E este processo será repetido ad aeternum, até não haver mais proteínas, i.e. massa muscular... Começam a entender a emaciação?... Dói...
Mas a coisa não fica por aqui! Lembram-se que havia um segundo efeito secundário?... A reacção química de transformação da proteína em açúcar produz um resíduo(!): a acetona!!! Ora digam lá se não é deliciosa a ideia de terem acetona (a mesma que é usada como diluente ligeiro) a circular-vos no
Claro que, num diabético... doses crescentemente cavalares... Resultado: a gente vomita tudo o que come... Quando já não há mais nada no estômago, no esófago e nos buracos dos dentes... há ainda a bílis!!! Essa coisa maravilhosamente ácida (para já não falar do gosto desagradável) que nos queima pelo esófago acima... Mas ainda não acabou!!! Pausa para referir que, por esta altura, a emaciação já se faz sentir; e a par da dor que são aqueles vómitos fortes, convulsivos e cáusticos, temos menos massa muscular (menos força) para aguentar a coisa... Bem, continuando, depois de vomitar tudo o que se tem no estômago e toda a bílis que tínhamos na vesícula, o “vómito” continua a puxar!!!! E aí é que dói! Não há nada para deitar fora, e é como se à nossa volta fosse o vácuo, a puxar o nosso estômago para fora da boca! Garanto-vos que dói e não é pouco! Em compensação, por essa altura, já temos tão poucas forças, que também quase já não sentimos... Pelo menos, era assim comigo... Felizmente que já não tenho dessas coisas há uns anitos... Mas o risco, helas!, ainda cá está.

Ou seja, quando o Sr. Areteus diz que “a carne e os membros se fundem e desfazem em urina”, ele acertou em cheio! A proteína transformada em açúcar seria eliminada na urina, assim como a acetona, substância tóxica de que o corpo tentará livrar-se o mais rápido possível. E pensavam vocês que o homem era um parolinho qualquer, mais velho que a Sé de Braga fosse ele! Uma espécie de curandeiro armado em dramaturgo! Ou vice-versa...


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