domingo, 28 de agosto de 2005

Descoberta molécula associada à retinopatia diabética - 2/2

Li a porcaria, digo... coisa, do artigo completo, o que me levou à constatação de que, na minha última entrada neste blog, eu retirei algumas conclusões que estavam, ao fim e ao cabo, completamente certas. Novidades?

Bem, penso que uma das mais curiosas e importantes é a notícia de que, tanto os níveis de erythropoietin como os de VEGF aumentam nas pessoas com retinopatia diabética, mas... Segundo o Dr. Lloyd Paul Aiello[1], a “acção [da erythropoietin] é independente da da VEGF”.

Não tenho muitas certeza quanto à interpretação mais exacta desta citação. Quererá o bom doutor dizer que os aumentos de erythropoietin e de VEGF são independentes um do outro. Ou apenas que os efeitos de uma e da outra molécula são diferentes? Esta última hipótese tornaria esta afirmação numa redudância sem sentido nem utilidade (uma vez que já nos foi dito que as funções, logo os efeitos, das células são distintos. Num sentido um cadinho mais rebuscado – uma figura de estilo, afinal – o Dr. Aiello estaria apenas a afirmar que as causas do aumento daquelas duas substâncias eram diferentes de uma para a outra. “Todo o efeito tem uma causa e toda a causa é um efeito.” ou coisa assim....

Aposto mais na primeia: Ou seja, em teoria, os níveis de erythropoietin poderiam aumentar e estar relacionados com a retinopatia, sem que aumentassem os níveis de VEGF. Da mesma forma poderiam aumentar os níves de VEGF e surgir a retinopatia, sem que houvesse alteração nos níveis de erythropoietin. Isto é interessantíssimo de se ver afirmado, não pela pertinência da afirmação em si, que não discuto, mas pelo espanto que me causa não darem a menor indicação de como chegaram a esta conclusão! Principalmente, tratando-se de algo com tão elevado potencial de paradoxo: há três (3) coisas que coincidem no tempo: i) a retinopatia diabética, ii) o aumento de erythropoietin, iii) o aumento de VEGF. E, no entanto, as duas últimas não têm qualquer relação entre si!

Como chegaram a esta conclusão?! É que os únicos factos, observações empíricas, por assim dizer que o artigo nos dá a conhecer são, precisamente, as coincidências temporais:

i) existência de retinopatia diabética;

ii) aumento dos níveis de erythropoietin;

iii) aumento dos níveis de VEGF.

Esta é a grande descoberta que se conseguiu provar: em pessoas com retinopatia diabética, aumentam os níveis de erythropoietin e de VEGF! Mais nada! O resto são especulações e deduções mais ou menos lógicas! Estas, quando bem feitas, podem ser muito úteis – já dizia o outro, “Não há nada mais prático que uma boa teoria.” Infelizmente, não parece ser esse o caso do artigo a que fazemos referência...

Mas há mais! Esta ainda é mais curiosa e interessante! E se calhar, até passou mais despercebida... ou talvez não! A que me refiro? Obviamente, ao facto de se partir do princípio de que os níveis altos de erythropoietin e de VEGF são causas da retinopatia... MAS QUEM RAIO O DISSE, ----------?! Repito, os factos que temos são os que vimos acima. Essa é que é a grande descoberta! E se é essa a grande descoberta, podem ter a certeza de que ela não é suficiente para dizer que os aumentos daquelas substâncias são causas da retinopatia! Tanto quanto sabemos, esses aumentos podem representar não causas mas sim efeitos da ------ da doença! O facto é que apenas se observou a coincidência temporal daquelas três coisas. Se alguma delas antecede a(s) outra(s), não se sabe. Se é causa ou apenas calhou de vir antes, muito menos (mesmo considerando as óbvias probabilidades). E se alguma antecede a(s) outra(s), não é este estudo que nos diz qual...

Se fosse, essa seria a grande descoberta: a maneira como a erythropoietin despoleta a retinopatia. É que, se no caso da VEGF, a coisa é mais óbvia: o VEGF estimula o crescimento dos vasos sanguíneos que vão obstruir a retina (e assim causar retinopatia), no caso da erythropoietin não há nada! A retinopatia é a obstrução da retina por excesso de vasos sanguíneos! A quantidade de glóbulos vermelhos (ou lá o que for) não tem nada a ver com o caso! Principalmente se a outra premissa apresentada no artigo estiver, afinal, certa, e os aumentos de erythropoietin e de VEGF forem independentes!

E coloca-se a questão: Mas, afinal, o que é a retinopatia?! Bem, já o dissemos: a obstrução da retina pelo excesso de vasos sanguíneos. E então que têm a erythropoietin e os glóbulos vermelhos a ver com o caso?! Bem, já lá iremos!
Para já, penso que é importante estabelecer duas coisas: Segundo o que nos apresenta este estudo:

1. A retinopatia é um sintoma e uma patologia que se caracteriza pela obstrução/destruição[2] da retina por vasos sanguíneos anormalmente numerosos.

2. A relação entre a retinopatia e o aumento de erythropoietin existe... Mas não se conhece a natureza dessa relação!

Lembrar-se-ão, as caríssimas leitoras e os caríssimos leitores, de termos avançado, como causa de tamanha precipitação por parte destes investigadores, alguma espécie de complexo ou mania do herói.

Peço-vos agora que analisem uma hipótese alternativa. Observem as seguintes passagens:

O VEGF ocorrerá em 50 por cento das pessoas com diabetes, a não ser que se faça algo para o prevenir.” Como por exemplo? Vocês nem sabem que raio causa os diabetes, ou parecem não querer saber, tão convencido se mostram de uma relação que nunca demonstraram – e sabendo de antemão o que é a diabetes! Sabem não sabem?1...

““Esta é a primeira vez que se mostrou, com dados extensivos sobre humanos, que a erythropoietin está envolvida na retinopatia diabética.”” disse Aiello. “A sua acção é independente da da VEGF.”” A primeira frase é interessante, mas teria sido mais interessante avaliar uma série de possíveis relações entre a erythropoietin e a retinopatia diabética, em vez dce assumir logo que a primeira era causa da segunda. Não vos parece plausível, p.e., que o aumento de vasos sanguíneo conduza a um aumento da produção/existência dos componentes sanguíneos? Ou vamos ter já uma rede viária sem carros para viajar nela? Mas enfim, o VEGF e a erythropoietin são independentes... Sabe lá Deus porquê, e o Diabo esconde...

Os parágrafos que se seguem naquele artigo, indicam, grosso-modo, que:

1. “A atenção tem sido focada na VEGF. Várias drogas projectadas para bloquearem a sua acção estão em fase avançada de testes (...)

2. “Mas os resultados pré-lcínicos sugerem que a VEGF pode não ser totalmente responsável, e este trabalho, aponta agora para a possibilidade de outra molécula estar independentemente envolvida.” A erythropoietin p.e....

3. “A descoberta abre uma nova área à investigação, disse ele, acrescentando que é preciso desenvolver muito trabalho para ver se a inibição da erythropoietin poderá ter um efeito benéfico.” Pois, isto é algo que me preocupa já há muito na medicina convencional: Muitos de vocês terão tirado as amígdalas... Nesse tempo, não se sabia que elas desempenhavam um papel muito importante na saúde emocional da pessoa – o que, no mundo em que vivemos, também parace não ter muita importência, de qualquer forma... Ainda assim, estou muito contente por manter as minhas amígdalas! :-D

E, claro, não preciso de vos referir a lobotomia, que chegou a ganhar um nobel, pois não?... Continua o artigo: “Uma questão é a segurança de bloquear a erythropoietin numa pessoa com diabetes, já que há estudos que indicam que ela também tem como função proteger a retina em momentos de tensão (...)” Não! Essa coisa só aparece no corpo para chatear! Cada molécula de erythropoietin surge na retina com o único propósito de estragar o olho! Mais nada! -------! Não estamos a falar de um vírus! Estamos a falar de um mecanismo natural do ser humano! Acham que é só encontrar o interruptor e desligar que não há-de ser nada?! Já nasceram parvos ou andam a treinar intensamente ultimamente?! Vá lá! Ainda se conseguiram lembrar do óbvio! Não, a sério! Não vos faz impressão a displicência com que os médicos cortam, tiram, implantam, inibem, controlam, fazem trinta por uma linha – particularmente os investigadores parecem nunca se preocuparem com efeitos secundários!

4. “Este é trabalho pioneiro.(...) E, como todo o trabalho pioneiro, ele tem que ser confirmado por outros, (...) e depois podemos procurar inibidores da erythropoietin.” Sobretudo estes dois últimos pontos (mas não só) levam-me a pensar que talvez não seja fama que estes caramelos anseiam, ams antes dinheiro! Ou talvez mesmo ambos...


[1] O Dr. Lloyd Paul Aiello é o director da secção de investigação ocular no Joslin Diabetes Center, em Boston (EUA), e redigiu um editorial que acompanha o artigo original no New England Journal of Medicine. Ora bolas, então este ainda não era o artigo original?! -----! Bem, pelo menos dá para verem como a informação nos chega aqui a nós, diabéticos de Portugal. Embora, normalmente, seja através do médico que nos acompanha... que deve ler o original, ou não? Vou ver se deito a mão ao dito! Provavelmente, nunca o hei-de ver, mas...

[2] Do artigo que citamos: “erythropoietin is just part of the molecular conspiracy that destroys vision in the diabetic eye. “

2 comentários:

Anónimo disse...

Por que nao:)

dmc disse...

Peço desculpa, mas ... "porque não" o quê?...