quarta-feira, 12 de abril de 2006

Experiências de "morte eminente"


Ouvi há momentos, na rádio, que investigadores nos EUA descobriram que as experiências de pessoas que estiveram próximas da morte (em que vêem uma luz branca ou se sentem flutuar acima do próprio corpo olhando para baixo) têm uma "explicação biológica".
Parece que, nessas situações, o cérebro entra num funcionamento semelhante àquele de quando sonhamos - ou seja, essas experiências são "produzidas pelo próprio cérebro". O locutor rematava dizendo que, "afinal, há uma explicação racional para o facto" (ou algo nesse tom) - em abono da verdade, a convicção do locutor ao afirmar isto não era tão evidente quanto isso...

No entanto, o que me intriga não é o facto de o locutor acreditar ou não nas conclusões científicas. É antes que essas conclusões são "racionais", por oposição ao assumir das experiências de morte-eminente (ou lá como lhes queiram chamar) como "reais".
Refiro-me à separação efectuada entre o sonho e a realidade num momento tão crítico como a proximidade da morte, em que a físicarealidade física está, para a pessoa que vive a experiência, fantasticamente perto de deixar de fazer qualquer sentido...
A pessoa "vai" morrer, ou seja: vai deixar de ter ligação ao mundo físico. Que raio importa a realidade física nesse momento?! Ok, a pessoa não morreu mesmo (não se "desligou" completamente), porque "voltou à vida" - mas são os próprios médicos que, nesses casos, usam o termo "ressuscitação" para designarem os procedimentos que efectuam para impedir que a pessoa passe definitivamente essa barreira...

Obviamente, no que disse há pouco, estamos a partir do princípio de que há uma parte física em nós, e uma outra, "não-física" - para o que não há provas... Mas aí é que está! O argumento dos tais investigadores (ou de quem os citou erradamente) é o de que "não há nada além da realidade física", porque... "a realidade física explica o facto"... Mas quem raio disse que as duas "realidades" não têm ligação?!
O que quero dizer é: Acreditar que não há nada para além da realidade física é uma crença tão (pouco) cega como acreditar que há algo para além da realidade física! Francamente, surpreende-me que esta discussão ainda ~faça sentido para alguém! NÃO SE PROVA A OUTRA PESSOA QUE DEUS EXISTE NEM QUE NÃO EXISTE! OU SE ACREDITA OU NÃO!
Pelo menos, não se prova dessa maneira! Esse tipo de "prova" é pura tautologia. É como dizer que Deus existe porque está escrito num livro ("Dele") que sim...

A posição dos ditos investigadores (fazendo fé na notícia radiofónica de que eles realmente fizeram essa distinção - o facto de verificarem que o cérebro sonha nesses momentos não é verificação de que a memória desse sonho (vejam alguns dos meus artigos anteriores ;)) não seja induzida por uma experiência real (vivida num plano "não-físico") é algo que poderia ser posto nos termos em que o fez Julieta Monginho, no seu livro Dicionário dos Livros Sensíveis: "A displicência com que os médicos teimam em ignorar a alma..." (citação de memória).

Para os cépticos, teimosos e críticos como eu próprio, tentarei traduzir e publicar mais um pouco do texto de Bruno Latour, que citei já no segundo ou terceiro artigo deste blgo, há quase um ano atrás...
Tantas promessas do que vou dizer e fazer neste blog... tantos incumprimentos... Enfim, é a vida... e a falta de tempo... eheh

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