segunda-feira, 20 de junho de 2005

Ainda sobre a verdade científica...

... será a paz possível? Poderemos ter esperança?


"Tenho uma pergunta para lhe fazer," disse ele, tirando do bolso um pedaço de papel amarrotado, no qual ele tinha escrito algumas palavras-chave. Fez uma pausa para respirar: "Acredita na realidade?"

"Mas é claro!" ri-me. "Que pergunta! É a realidade algo em que se precise de acreditar?"

(...)

Ele era um psicólogo muito respeitado, e tinhamos ambos sido convidados pela Fundação Wenner-Grenn para uma reunião contituída por dois terços de cientistas e um terço de "cientistas da ciência" ["science students"]. Esta divisão, só por si, anunciada pelos organizadores, deixou-me perplexo. Como podíamos nós ser atirados para alguma arena contra os cientistas? O facto de estudarmos uma área não significa que a estejamos a atacar. Serão os biólogos anti-vida, os astrónomos anti-estrelas, os imunologistas anti-anticorpos? Além disso, eu tinha ensinado durante vinte anos em faculdades de ciências, tinha escrito regularmente para revistas científicas, eu e os meus colegas tinhamos vivido da investigação financiada, desenvolvida em nome de muitos grupos de cientistas na Indústria e na Universidade. Não era eu um membro da comunidade científica formal francesa? Sentia-me ou pouco vexado por ser excluído assim tão casualmente. É claro que eu sou apenas um filósofo, mas o que diriam os meus amigos nos Estudos da Ciência? A maior parte deles tiveram formação científica, e muitos deles, pelo menos, têm orgulho em alargar a visão científica à própria ciência. Eles poderiam ser rotulados como membros de outra disciplina ou outros sub-tema, mas certamente que não como "anti-cientistas" encontrando-se a meio caminho com cientistas, como se os dois grupos fossem exércitos inimigos, conferenciando sob o auspício de uma bandeira de tréguas antes de voltarem ao campo de batalha!"

(minha tradução de uma parágrafo do original em inglês: Bruno Latour, "Do You Believe In
Reality?", in Pandora's Hope, Essays on the Reality of Science Studies, Cambridge MA, Harvard University Press, 1999), pp. I-23)

Bem, se o blog do Murcon se recomendava (pela sua qualidade e agradabilidade), a leitura do texto completo do qual aqui cito apenas um parágrafo... é FUNAMENTAL!!!
Divirtam-se!

Sem comentários: